domingo, 27 de maio de 2012

Me passa o açúcar?

Me passa o açúcar?
E também seus braços.
Me passa o afeto, o amor e todos os apelidos.
Me passa aquele sorriso bobo, passa os pés pelas minhas pernas.

Me deixa aqui, perdida na sua pupíla.
Cria um mundo só nosso, sussurando no meu ouvido, bem baixinho.

Deixa aquele teu cheiro aqui, em volta de mim.
Deixa o peso do seu corpo cair sobre o meu. Deixa que encaixe.

Te deixo aqui enquanto busco nosso café da manhã.
Trago na bandeja um milhão de beijos.
E no copo, uma dose de desejo para que a noite recomece pela manhã.
Os talheres são minhas mãos. Minha língua é o guarnapo.

Em volta, tudo bagunçado. Roupas, livros, chapéus, o violão deitado no chão...
Dentro de nós, tudo em perfeita sintonia.

Você dormiu.
Minha retina capta cada detalhe, fotografa as curvas do corpo contra o lençol.
Enquadro seu rosto e durmo.

Meu despertador são seus beijos.
Seu bom dia é a minha música predileta.
O sol invade a janela e nós dançamos no silêncio.
Seus olhos são as janelas do mundo em que quero me perder.

Amor... nosso amor não passa.
Mas, me passa o açúcar?

sábado, 19 de maio de 2012

Ensaio da vida real.

As duras palavras são assistidas pela ingenuidade da criança.

Ela se assusta, mas ainda tem o dom de esquecer... e sorri diante do perigo.

No meio da cena, sem ser protagonista. É ignorada.

Vira minha protagonista.
Como todas as minhas outras protagonista...
Desconhecidas, esquececidas. Sempre uma vírgula, nunca um ponto final.

Uma gargalhada, uma marca de batom. Os pés descalços e datas sopradas nos ouvidos.
E sempre a máquina prendendo mais a atenção do que a arte.

Ainda assim, o maior perigo é o cadarço desamarrado e a melancolia de quem escreve.
Eu consumo o tempo para que o tempo não me consuma.

E o desespero de ter a certeza do último passo, mas perceber que é só o primeiro passo de um novo começo.

Os movimentos cada vez mais lentos e cansados, e pesados. A dança cada vez mais insuportável de se assistir.

O mesmo melancólico contorno cinza, mesmo com os raios cruzando a paisagem, o cinza escuro amarga a língua e as palavras se tornam cada vez mais incompreensíveis.

Lembra que o caminho é longo e os passos curtos.

Mas o longo tecido permanece sua dança, sem peso. Contra o vento, contra o tempo.

De repente, a explosão e os fragmentos atirados contra os corpos.
Os pequenos pedaços de alma... tudo se esvai.
Os pedaços destoam da clareza... a volta do cinza diante a transparência.