terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Desejo cego.

Naquela noite, não se enxergou nada.

Lábios moviam, ora para soltar sussuros, ora para serem ocupados por outros lábios.
Abriam-se, abrindo espaço também para a língua, que ora explorava, ora era explorada.

As mãos passeavam pelos corpos. Desenhavam seus contornos, sentiam a pulsação do desejo, sempre trazendo o outro corpo mais para perto, mais para dentro.

Sentia-se a respiração ofegante, e o ar quente e úmido da outra boca passava pelo seu pescoço, pela sua orelha...

O cheiro agradável dos cabelos que insistiam em cair sob o rosto, enquanto aquela mão segurava com força os cabelos da tua nuca, que suava e tremia de tanto desejar.

A pressão do corpo contra a parede, a pressão de um corpo contra o outro. Quadris coladodos, lábios unidos e desejos entrelaçados.

Os corpos se soltaram, embriagados por sua mistura.

Naquela noite, não se enxergou nada. 

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Listras.

Listras no corpo, sorriso no rosto.
Morou num livro, um romance tosco.
Lhe resta falar de amor e da ilusão que ele trouxe.

Insignificante.

Se preocupava com números e com o tempo.
Não entendia nenhum deles.

Gostava das cores. Pintava e repintava seu mundo, na íris.
Era cega.

Gostava de sons. Da música do silêncio.
Era surda.

Não era nada, nem nunca seria.
Só ria, só.
Sozinha sorria.

Na sua insignificância, nem lapso de esperança.
A espera cansa e lhe causa ânsia.

O amor lhe visitou. Não soube amá-la e foi embora.
Pelo menos hoje, é nela que a esperança mora.

Rotina.

Erguem os punhos para o alto, mas sem esperança que nada mude.
Não reinvidicam nada. Não pedem por mudança.

O punho cerrado apenas para se manter estável, enquanto a rotina te conduz para a mesmisse.

A voz anuncia a próxima estação, algumas mãos se soltam para que possam seguir seu rumo, novos corpos ocupam o espaço.

E o mundo segue, como se nada acontecesse.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Aqui.

Aqui morava a descoberta.
Como aquela primeira mordida, o primeiro cheiro que entra no teu quarto pela manhã, como olhar-se no espelho e encontrar alguém totalmente diferente.

Aqui morava a angústia.
Como aquela marca de sangue fresco na calçada, como olhar-se no espelho e não enxergar nada.

Aqui morava a felicidade.
Mas essa, fez as malas. Pegou o primeiro vento forte, e saiu voando. Livre... como ela é.
Ela foi ágil e partiu sem me dar chance de impedí-la.
Ou talvez eu seja péssima em fazer sentimentos morarem, por muito tempo, dentro de mim.

Aqui é o maior abrigo de lembranças.
E lembrança é a única coisa que a felicidade esqueceu aqui, dentro.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

O Maior Sábio do Mundo.

Uma espessa neblina envolveu aqueles corpos.
Tudo era confuso e nebuloso, mas ao mesmo tempo, uma luz de força inimaginável brotava daquela junção.
Era a coisa mais límpida e verdadeira. Aquela luz que envolvia, trazia a maior felicidade do mundo, os corpos t(r)emiam e o desejo não calava.

O desejo é incontrolável. O amor é incontrolável.
O controle deixara de existir.

o ilusionismo puro de que aquilo acabara ali.
aquele era o começo, o recomeço.

Era honesto e puro. Era proibido e confuso.
Eram dois corpos, em um só.
Eram duas almas se fundindo, eram duas bocas se encaixando per-fei-ta-men-te.
Era a calmaria de um abraço, em meio a fúria de um desejo.

Aquele desejo que sobe pelo corpo, sendo guiado por aquelas mãos.
Aquela paz na alma, do perfeito.

É insaciável.

O maior sábio do mundo é aquele que um dia foi capaz de ensinar o amor.
De repente, um coração pulsava por um sentido maior.
O impossível acontecera, afinal.

E hoje leva no peito a maior dor do mundo, a dor do amor.
E hoje leva no peito a maior paz do mundo.

O maior sábio do mundo é aquele que um dia for capaz de juntar e eternizar aqueles que se amam de verdade.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Queria.

Eu só queria ter a intensidade de um texto bem escrito.

Queria ser eterna como aquelas palavras ditas naquela conversa que você relembra todos os dias, antes de dormir.

Queria ser forte como a dor.
Queria ser duradoura como o seu cheiro, que insiste em fica na minha roupa, na nossa cama, no nosso quarto...

Queria ter a força da saudade, a ponto que enquanto ela te visita, somente ela - a saudade - ocuparia seu pensamento.

E no encontro,
a saudade escorre pelo suor,
novas conversas serão eternas,
seremos mais fortes que a dor.

Mas seu cheiro... ainda ficará em mim.

(3h56, e a conta da saudade, quem é que paga?)

Seus olhos.

De vez enquando me dá uma vontade absurda de repetir in-ces-san-te-men-te a mesma frase.

''Eu amo seus olhos.''

É intenso demais e só a repetição pode demonstrar o quanto é intenso.
De repente, fica repetitivo, vira banalidade...

Ah, mas seus olhos... seus olhos continuam lá, COMPLETAMENTE intensos.
E eu amo seus olhos.

Eu me perco neles.
Seus olhos me levam para qualquer lugar, você me guia.
Geralmente me levam para dentro de você, tão perto e tão longe.

 Como se a cor da sua íris fosse todas as tintas juntas, e na sua alma reconhececia cada uma, separadamente.

A pupíla precisa, como um ponto final.

Eu amo seus olhos.

Datas!

Os textos publicados acima foram escritos no dia em que o blog indica.

Abaixo, textos antigos publicados no dia da criação do blog, se encontra a data em que foram escritos no fim da postagem.


Inconstância.

Foda a inconstância.
O abismo e o céu no mesmo cenário. Os dentes rangendo, mas com a boca fechada.
Felicidade bruta e a cara amarrada. O abraço rejeitado e a distância real.
Um segundo e o mundo muda.
Um segundo e o medo mudo.
Um segundo e mudo, morre.
(29.O1.2O12, 9h31, mudomorremundo)
a vibração no corpo e a corda rompendo. e a corda morrendo.
e acorda morrendo.

Desconhecido.

Nem mesmo a chuva alegrava. Água não caia ressoando sua música, o som das gotas no telhado eram estridentes e irritantes.

O corpo, as coisas que sabemos nomear que dentro dele funcionam, funcionavam com normalidade. Mas sempre o que nos intriga é o que não conhecemos e que está tão perto, dentro de nós.

Alma? Energia? Incansável a arte de tentar nomear o desconhecido.

E naquele dia, era o desconhecido que saíra de órbita.  Era confuso. Mais confuso do que ter algo que não sabemos precisamente o que é habitando nosso corpo. Mas se o que nomeamos orgãos, veias, pulsação, entranhas, funcionavam perfeitamente, era mesmo o desconhecido que assombrava o corpo. Se não bastaria um médico, um remédio e o problema seria resolvido e nem ao mesmo seria motivo de escrita.

Para que fique decretada a confusão, os sentimentos foram convidados para a história. Então o dessasossego, a melancolia, a tristeza, dançavam livremente pelo desconhecido, integrando-se a ele, exatamente por não ter explicação plausível (apesar de ter nome).

Para o exterior e para aqueles que julgam saber de tudo, o que acontecia dentro do corpo era o descompasso. Mas o desconhecido sorria ao som harmonioso que impulsionava a dança dos sentimentos. E pouco importava o exterior.

Para o desconhecido, o limite é o desconhecimento. Assim, se evita as coisas simples e fáceis de se explicar. Se evitam as coisas nomeadas e invariáveis. O mecânico e o óbvio não importa. Tudo que existe explicação, não importa mais. E para o que não há explicação, o desconhecido não busca respostas. Na harmonia simples de aceitar o que é inexplicavel e conviver com ele, ele, apenas, vive. ”E uma pessoa grande jamais entenderá que isso possa ter tamanha importância!”

Era a dança da solidão, para o corpo.
Era a coreografia mais harmoniosa, para o desconhecido.

E nem 43 pores do sol foram suficientes para aqueles olhos.
Enquanto uma única estrela fez a alegria eterna do desconhecido.

(19.O1.2O12, 12h49, Pequeno Príncipe)

Gota.

E quando o Sol chegou, dobrou a esquina, com a mesma força e determinação de quem dá um passo diante do abismo.

A fuga é para a sombra, para que o ambiente se iguale ao seu interior.

Espera pela chuva. Essa que antes de se chocar ao chão, corre pelo corpo em busca do pior de cada um e em suas gotas, carrega o pior do mundo. O impacto ao chão anuncia que é hora de evaporar a escória das almas e elevá-las ao céu para que ocupe e atormente todos os deuses.

Os deuses agora estão ocupados e se importam ainda menos com o mundo terrâneo.

As almas estão puras e é hora de recomeçar o ciclo do apodrecimento interior. Ninguém vive com a alma pura e a mente limpa eternamente.

A virgindade dos dias de chuva duram apenas um passo, um piscar de olhos.

Fechou os olhos e olhou para dentro. O ar era fresco, o líquido de suas entranhas era límpido. Era livre, dentro de si.

A última gota caiu em seus cabelos e escorreu até sua boca. Lambeu os lábios aproveitando seu último segundo de trégua.

Voltou ao Sol. O ciclo recomeça.

(1O.O1.2O12, 9h51, chuva.)

Fim.

Eu poderia me jogar do ponto mais alto do mundo, sem medo algum.
No passo do desespero, o grito é sereno.
No rosto, o alívio. No peito, a arritmia.
A luta contraditória entre corpo e alma; Sentimentos contrários trazem equilíbrio ao espaço.
O vento entrelaçando o cabelo, o chão chegando perto. Destino certo.
O silêncio ensurdecedor. fim.

Alma.

Sobe as escadas e adentra o quarto, como se nada tivesse mudado.

Os mesmos movimentos, o mesmo trajeto… deixa o peso do corpo cair sobre a cama. (dessa vez, sem impacto)

O pensamento voa tanto quanto a alma.

A calmaria da melodia preferida invade sua audição, sem que ela coloque a música para tocar.

Canta. Sua voz ecoa.

Levanta-se para dançar e seus pés flutuam, presos somente ao som.

Dançou por horas. Sem cansaço e sem suor.

Tudo havia mudado. Não havia mais tristeza no seu quarto.

O santo quebrado, livros espalhados, ingressos amassados. Recordação de um passado.

[O tiro disparado. Mudo. Calado.]

Passos na escada, firmes e decididos. Reais.

Ainda ouviu o suspiro do peito que soluçava do outro lado da porta.

Sorriu, como convite de boa vinda, ao ouvir o girar da maçaneta.

Os passos foram em direção à ela. Esperava o abraço.

O corpo transpassou o seu.

Calada, sorriu… Desesperada.

O abandono da calma pra a dimensão da alma. Transborda.

Acolheu a calma e a alma foge. Acolheu o caos para expansão do ser…

Alma.

(18.1O.2O11, 23h34, transpassar.)

Imersa.

Quando ela tira o vestido, deixa o mundo todo para trás.

A beleza da pele pálida preenche o vazio do quarto. Inunda a solidão.

Qualquer pedaço de chão fora ocupado. Se desmanchou, estilhaçada pelo apartamento.

A divisão: o corpo, sólido. E a alma no estado líquido, escorrendo…

Os pedaços eram poucos, comparados com o denso líquido que já cobria parte dos móveis. Era vibrante, de cores nunca vistas antes e de uma iluminosidade incrível.

Ninguém assistia.

A porta era censura. As janelas eram altas demais para servir de moldura para expectador. O buraco da fechadura não criava curiosidade.

Se desfez. Se desfigurou. Evaporou… Nunca mais foi vista.

Em dias de chuva, o perfume dela se espalha pelo ar que envolve seu antigo apartamento.

(O9.1O.2O11, 14h25, quando ela tira o vestido.)

Foto-síntese.

Na cor dos olhos teus, vi a vida brotar.

Vi a vida botar espinhos no meio do caminho.

Vi a vida muda diante da imensidão. Vi a vida cair sobre o chão.

E enquanto ninguém percebia, juntava forças para romper cada grão que a separasse da luz do sol.

Suntentava o peso dos homens, pisando com seus passos firmes de quem está sempre atrasado.

Sustentava os sonhos dos destemidos e se alimentava deles.

Tentava respirar…

E como numa foto, se fez ali a síntese da vida: uma flor nascida em uma fresta do asfalto.

(14.O9.2O11, 18h58, por onde flor)

Pedro e Mariana.

Os próximos textos consistem em uma série de 6 capítulos sobre a história de Pedro e Mariana.

Espero que gostem,

Boa leitura.

Adeus, Pedro.

- Leve embora tudo, de uma vez. Leve embora minha sensatez. - Implorou Mariana, com o olhar cheio de desejo.

- As correntes que te arrastam de volta ao passado são as mesmas que hoje deixam marcas na minha pele.

Ela nunca negou ser uma Drama Queen. Ele adorava.

- Corre pela boca aquela vontade absurda de despejar toda minha insegurança em você. Aquela vontade absurda de que você corra na direção da minha boca.

Respirou fundo… e entregou toda sua dramaticidade, de uma vez só:

- Vontade absurda de morrer na tua boca.

Entrega total. Era o que ela buscava. Ele, temia.

- Toma, minha vida agora é tua. Faça o que bem entender. - A voz trêmula de Mariana. Era sempre assim quando se emocionava.

- Mas o que você pretende que eu faça? O gosto Dela ainda mora na minha boca. Ela é o meu mal necessário.

Ele odiava admitir. Mas Pedro não esqueceu da Outra… Parece que nunca vai esquecer.

- Não vê que ela vai te despedaçar, mais uma vez? Espera que eu seja seu conforto quando isso acontecer?
Mariana odiava Aquela com todas suas forças. Pedro não merecia alguém que brincasse com os seus sentimentos.

- Você espera por mim? - Pedro pergunta, como um último apelo.

Não é que ele não gostasse de Mariana… Pelo contrário. Se encaixavam perfeitamente. Mas Pedro tinha seu ponto fraco, Aquela aparecia sempre que ele encontrava um modo de esquece-la.

Mesmo sabendo que esperaria, que contaria os segundos até que Pedro voltasse, Mariana vestiu-se de sua própria heroína e respondeu:

- Não vou esperar por você. Adeus, Pedro.

E desde então, Pedro se faz presente em forma de lágrima, que se acomoda no travesseiro que costumavam dividir.

Desde então, Pedro mora entre as palavras de Mariana. Em cada texto que ela escreve, em cada frase elaborada em sua mente.

Pedro continua impregnado na boca de Mariana. E parece que nunca mais vai sair.

(28.O8.2O11, 20h18, Pedro e Mariana.)

''Se me falta sua presença, eu me perco te procurando''.¹

O tempo passou e o gosto de Pedro quase desapareceu da boca de Mariana… Talvez por ela ter provado tantos outros gostos, desde então.

Ela sabia e nós sabemos que a substituição não é possível. Não para as mulheres, poços de intensidade e memória.

Nunca mais tinha visto Pedro. Não sabia se ele mantinha aquela barba por fazer, ou se continuava com a mania de passar a mão na nuca quando alguma ideia te atormentava. Não sabia se Aquela continuava se aproveitando de Pedro ou tinha encontrado alguém mais conceituado que ele para alimentar seu ego.

Pedro vive pelos cantos desde que Aquela te despedaçou, mais uma vez. As palavras de Mariana atormentavam sua cabeça.

Queria correr para o apartamento de Mariana, encontrar ela de calcinha e sutiã, dormindo de bruço. Acordá-la beijando seu pescoço e receber aquele sorriso em meio aos beijos… as roupas jogadas no chão, os corpos suados e dormir com Mariana deitada em seu peito.

Não conseguia. Mariana tinha deixado claro que aquele era o último adeus.

Acordava, sentava em frente ao computador e escrevia textos implorando pela volta de Mariana, todos os dias, religiosamente. Nunca teve coragem de enviar nenhum.

Ouve as músicas que Mariana ouvia enquanto estavam juntos, que ele não gostava e sempre reclamava. Hoje, elas fazem todo sentido.

Mariana vive mergulhada em sua rotina e de vez enquando ainda lembra de detalhes da sua vida com Pedro… e sorri.

Pedro não esquece Mariana nem por um segundo… e chora sempre que aquele folk que ouviam juntos começa a tocar.

¹. tradução de trecho da música Perdido Sin Ti (Robi Rosa / K. C. Porter / L. Gómez Escolar)

(29.O8.2O11, 22h10, folk.)

Cigarros.

Mariana lutava com a persiana novamente. Pedro não apareceu beijando-a no pescoço, rindo do tanto que ela é desastrada, resolvendo seu problema… Sentiu falta, como não sentia a muito tempo.

- Por onde você anda? Aconteceu o que eu disse que aconteceria? - Disse em voz alta, desistindo da persiana, que permaneceu fechada.

Andando pela Paulista, Pedro esperava encontrar Mariana. Visitava as livrarias e sebos favoritos de Mariana, torcendo que ela estivesse ali, como nas tardes que queria fugir do mundo e usava a Paulista como refúgio.
Pedro tinha começado a fumar… coisa que Mariana, com certeza, odiaria. Mas desde que não tinha mais as mãos dela na dele, precisou ocupá-la com outra coisa… Escolheu o cigarro.

Via o cigarro como uma representação de si: Ele se consumia aos poucos e só restavam cinzas, restos do que ele foi um dia.

Acendeu mais um cigarro.

(3O.O8.2O11, 19h20, cigarros e lembrança.)

Vícios.

- Ela impregnou em minha alma. Escuto a voz dela, andando pela rua. Sinto o cheiro dela nas minhas roupas.
 Às vezes, acordo por sentir o cabelo dela no meu rosto, igual quando dormia com o corpo colado ao dela. Eu acho que estou enlouquecendo… Já teve a sensação de que um sentimento estava sufocando o seu corpo?

Pedro já tinha desabafado o mesmo texto para todos os amigos próximos. Nenhum soube lhe responder, muito menos ajudar.

Pedro não conseguia dormir uma noite inteira, em paz.

Mariana estava sem dormir. Saia de uma balada de rock para a cama de um completo estranho… Saia sem saber o nome do homem que ocupou seu corpo e sua mente nas últimas horas.

Já que não bebia, Mariana se embriagava de prazer. Escapismo sujo e barato, ela sabia… Pura atração e desejo. Braços, pernas, peitos e bocas impedindo que o coração pedisse por Pedro novamente.

- Ame meu corpo essa noite… Somente o meu corpo. Não se apaixone por mim, nem nunca mais me procure. E eu farei o mesmo. - Mariana susurrava no ouvido do escolhido da noite.

Pedro e seus cigarros. Mariana e seus homens.

(31.O8.2O1O, 21h46, embriagada de prazer)

Insustentável.

o relógio marcava 13h01.

Camiseta molhada de suor e pouca lembrança da última coisa que tinha feito.

Pedro puxou o computador para o seu colo e se assustou com a data… Dormiu dois dias seguidos.
Em vez de escrever mais um texto que nunca enviaria, Pedro tomou coragem para agir. Era o fundo do poço, não tinha nem mais vontade de viver.

Caminhou descalço até a varanda e sentiu o vento contra o suor impregnado na sua camiseta… Era tão covarde que não conseguiria nem acabar com sua própria vida.

Calçou um tênis, vestiu uma camiseta branca limpa e seguiu, ainda desnorteado, em direção à rua.
Sem esforço algum, seus pés trilhavam o caminho da casa de Mariana. Quando se deu por si, estava parado em frente ao número 32.

Bateu firme na porta de madeira e saiu do alcance de visão do olho mágico. Pode ouvir os passos lentos de Mariana, enquanto seu coração batia mais forte do que nunca.

Mariana abriu a porta e ao ver Pedro seus lábios se separaram. Nenhum som saiu de sua boca.
Lágrimas escorreram pelo rosto de Pedro. Suas pernas cederam fazendo que seus joelhos batessem contra o chão e com um esforço absurdo conseguiu dizer:

- Volta pra mim. Eu te imploro.

Se levantou e tentou abraçar Mariana, que se esquivou por puro reflexo. Tomou a mão dele e disse: - Entra.

O apartamento continuava exatamente igual, só um pouco mais bagunçado. Pedro se sentiu, verdadeiramente, em casa. Só faltava cores… a paisagem era cinza agora.

Assim que sentaram no sofá, Pedro começou a despejar palavras no colo de Mariana.

- Você estava certa. Você sempre está certa. Eu não consigo viver sem você e só pude perceber isso quando te perdi. Meu corpo está uma bagunça desde que você partiu. Não tenho vontade alguma de viver, se você não estiver do meu lado. Uma parte de mim morreu no momento em que você partiu. Eu sou um egoísta, um imbecil, eu sei! Mas me perdoa. Eu nunca mais te farei sofrer, me…

- Eu sabia que isso ia acontecer, Pedro. Melhor você parar agora, antes de dizer que esse tempo todo estava tomando coragem para vir até aqui. Ou antes que você fale que seu orgulho só te deixou vir agora. - Mariana estava firme (ou seria seca?)

- Você me conhece. E se conhece, sabe que nada disso é mentira. Você já me viu derramar lágrimas por alguém? Você, realmente, acha que não estou sendo verdadeiro? Eu estou entregue, de corpo e alma. Eu sou um covarde, tão covarde que não tive força para acabar com esse meu resto de vida.

- O que você pretende com isso, Pedro? Que eu volte pra você agora que Aquela desistiu de ti, como eu disse que aconteceria? Que eu cure todas suas feridas pra você me abandonar quando qualquer Outra aparecer?

- Eu disse que você estava certa e sei como sou idiota de um dia, ter desmerecido a melhor mulher que já conheci. Eu estava cego. Foi o maior erro da minha vida e me culpo todos os dias por isso. Se esse erro me custar viver longe de você pelo resto dos meus dias, me considero morto.

- Para com o drama, Pedro. Eu que faço… aliás, fazia isso. Você parece um maluco! O cabelo todo despenteado, roupas amassadas, a barba sem fazer por meses… se a intenção era impressionar, você conseguiu.

- Mariana, olha nos meus olhos e me responde:O que você fez desde que me disse adeus? Você sentiu minha falta? O que você sente por mim?

Pedro segurava o braço de Mariana e tinha aproximado seu corpo do dela… sentia o ar quente que saia da boca dela, o desejo corria por suas veias.

Em um movimento, Mariana se livrou das mãos de Pedro e respondeu, quase berrando:
- EU VIVI A MINHA VIDA, PEDRO. ME ENTREGUEI NAS MÃOS DE QUANTOS HOMENS EU PUDE! E SABE POR QUE ISSO? SABE POR QUE, PEDRO? PORQUE EU QUERIA TIRAR VOCÊ DO MEU CORPO E DA MINHA MENTE! EU NÃO AGUENTO MAIS AMAR UM HOMEM QUE ME VIU COMO SEGUNDA OPÇÃO O TEMPO TODO! EU NÃO AGUENTAVA ENTREGAR MINHA VIDA À VOCÊ, ENQUANTO VOCÊ ENTREGAVA A SUA PRA OUTRA. EU SEMPRE TE AMEI, PORRA! EU NUNCA MAIS…

Mariana soluçava, encostada contra a parede. Pedro chorava com o rosto entre as mãos. Um silêncio ensurdecedor pairou na sala.

Pedro abraçou Mariana que tentava afastá-lo socando seu peito com toda sua força… Cedeu. E se afundou seu rosto no corpo que tanto amava.

Nenhuma palavra foi dita. Dormiram abraçados no chão da sala, no meio de uma tarde cinza.

(O5.O9.2O11, 00h40, número 32)

Saudade.

Pedro acordou desnorteado, como se tivesse dormido dois dias seguidos, mais uma vez… a única diferença é que acordou feliz, mesmo com a incerteza do que aquelas horas de sono significavam.

Assistia Mariana dormir em seus braços, sentia sua respiração e matava a saudade de seu corpo, enquanto mantinha aquele sorriso bobo que todo apaixonado ama mostrar.

Mariana acordou, silenciosa. Os olhares se encontraram e se perderam.

Mariana rompeu o silêncio:

- Qual é o desfecho da nossa história? Dormir abraçados, acordar no meio da madrugada como se nada tivesse acontecido? Fingir que esqueci e você fingir que é para sempre? Ou permanecer calad…

A boca de Pedro calou a voz de Mariana. Agora, só os corpos falavam… se entendiam no silêncio do toque.
Pedro bebia o corpo de Mariana, que finalmente cedia. Sabiam os passos daquela dança de cor, e se entregaram ao ritmo da música que só tocava para os dois.

O ritmo se intensificou até o ápice, o gozo… Duas palavras ecoaram pelo apartamento:

- Adeus, Pedro.

Um longo suspiro e o corpo de Mariana se estendeu no chão. Mudo, quente, imóvel.
Seu coração bateu pela última vez, por Pedro. Fulminante e exclusivo. Só para Pedro.

Na lápide de seu peito estava escrito: Era tanta saudade. É, pra matar. (…) Saudade mata a gente.”

(O5.O9.2O11, 22h33, fim.)

FIM!

Nó.

Um nó na garganta.
A sensação de impotência veda a esperança.
Nunca mais criança. Nunca mais pureza que hoje mora na lembrança.
A garganta tão seca quanto a vida que leva.
De tão seca, nada resta.
Fim ou recomeço?
A vida pelo avesso.
Você escolheu o lado inverso.

Não sei se pauso ou recomeço.

O que fazer quando tudo que sobra, são apenas restos?
(17.O8.2O11, 12h20, recomeço.)

Antes que eu enlouqueça.

No pulso, o ponteiro não parou.

Apesar de tudo pairar no ar, nada realmente parou.

As vidas continuam a passar pelas nossas, sem direção, nem destino.

Desatino de compreender antes que enlouqueça.

Não espero que esqueça.
Agora, nada resta.
Agora, não adianta.

Pílulas de tristeza me alimentam, cada momento que sinto sua falta.

Porque o tempo não volta para os tempos de sorriso fácil? Porque o tempo não volta para o seu abraço?
Quanto falta? Quanta falta.

Papel, caneta e mais uma desgraça.
O cinza não colore, nem conforta.
Agora, nada importa.

A lágrima se arrasta pelo rosto, da mesma forma que você se arrastou até aqui. Era mesmo necessário?

Não teve motivo. Não tem solução.
Não tem sossego no meu dia.
Não alivia.

O ponteiro não para. A vida pulsa.

(17.O8.2O11, 12h12, cinza não colore.)

Encontre.

Que você encontre esse texto…

Um dia que você estiver à toa e eu não estiver mais aqui.

Encontre nele a minha alma e tudo que ela abrigava enquanto eu escrevia.

Encontra os vestígios das lágrimas que a modernidade transferiu dos meus olhos para a tela. (e não mais para folha de papel.)

Encontre meu ser solitário. Meu lobo interior, imaginário.

Encontre abrigo em meu vocabulário.

Encontre esse texto involuntário, escrito por mim, poeta não amado.

(14.08.2011, 21h14, poeta não amado.)

Quebra-cabeça.

Pior é saber, exatamente, as peças que terão o encaixe perfeito e não saber como juntá-las.

Falta do encaixe, quebra a cabeça.

O quebra-cabeça está montado. A imagem está nítida, porém incompleta.
Faltam duas peças.

Tantas imagens, palavras e sentimentos expressos no quebra-cabeça. Mas a parte que realmente importa consiste nas duas peças que faltam.

De nada adianta a belíssima imagem formada, sem o desfecho que a junção das duas peças trarão.
Manter o quebra-cabeça incompleto seria como morrer bem no auge da vida.
Veríamos o quebra-cabeça e lamentariamos a parte que lhe falta.

A parte que nos falta.

Valeria a pena? Valeria a pena toda a construção? Palavra por palavra, sensação por sensação, peça por peça, para desistirmos no final?

Certeza do encaixe. Duas peças.

Só falta que você peça. Só falta você, peça.
Peça…
Peça pelo meu corpo. Eu imploro pelo seu.

(14.O8.2O11, 20h43, falta de encaixe, quebra a cabeça.)

Tudo cabe no quase.

Tudo cabe no quase.

O agora e o depois entram em conflito. Em que momento o agora passou a ser passado? Em que momento o agora passou a ser depois?

O fato é que não fomos feitos para acompanhar o tempo. É ele que nos acompanha, incessantemente. Não há sossego.

''Não há razão pra preocupação! Estamos num tempo em que tudo acontece muito cedo!'' dizem os mais modernos.

Mas em que momento deixamos o depois para agora?

Ultrapassamos fases que nos fazem falta. Nos tornamos vazios.

E pra onde vamos quando há vazio na alma? Pra onde vamos quando a esperança cansou de esperar e se atirou no precipício mais próximo?

Pra onde foi a importância dos dias de chuva, que lavam a alma, e os admiradores desses dias?

Será que você ainda sente os pingos da chuva escorrerem pelo seu rosto? As lágrimas secaram a muito tempo. E quando a chuva tenta suprir a ausência delas, você sente?

Sente minha ausência que se faz cada vez mais presente?
 Pela última vez lhe pergunto: Você sente?

Não… você mente.

(O8.O8.2O11, 20h02, Von Trier e ônibus)

Ele. Ela. Deles

Ele, tão acostumado à estar com a câmera em mãos, levando-a aos olhos, fotografando os mais lindos momentos, se via ali despido de seu equipamento, se contentando à fotografar com o olhar cada detalhe de um momento tão seu. Esse registro (apesar de ocular) seria o mais bonito que já havia feito.

Ela, tão acostumada aos inúmeros flashes dos desfiles de moda, olhava apenas um fotógrafo, o seu fotógrafo. E pouco importava, naquele momento, as roupas, a maquiagem (que à essa altura resistia à não borrar)… importava apenas o movimento delicado das mãos do fotógrafo que segurava suas mãos.

Despidos ali, diante de tantos, comtemplando um ao outro.

O pequeno homem, tão dele e tão dela, comtemplava tudo com seus pequenos olhos expressivos. Tão ele, tão ela. Tão deles.

(13.O7.2O11, 03h20, imaginando o possível futuro alheio.)

Poesia Cotidiana

Gosto da poesia cotidiana.

Onde a beleza mora no sorriso da empregada doméstica, com a bolsa colada na cintura levando seu suado sálario. A beleza mora no surrado boné amarelo se destacando em meio à multidão, mora na música cantarolada pelo jovem que usa a rua de cenário para as palavras do cantor que mora no mundo de seus fones de ouvido, mora na arte desprezada por muitos mas que persiste enquanto pelo menos um observá-la na correria de seu dia-a-dia.

Estátuas vivas, malabaristas, cantores, instrumentistas que fazem da calçada palco de suas apresentações. Como se nos disessem: ''Olha! Olha a arte a tua volta. Olha, eu colorindo sua rua! Me olha e então, M(olha)! Molha sua alma nas águas da arte.''

E nós, trancafiados no sistema que nos foi imposto, estendemos um trocado para esses artistas achando que NÓS é que estamos fazendo uma boa ação! Ora, deixemos de ser tolos! E junto com o trocado (já que mania não se larga tão fácil), ofereça um abraço ou um muito obrigado!

Nunca mais reclame do idoso ''atrapalhando seus passos''. Este te faz parar, de fato. Mas que te faça parar para contemplar o seu futuro, pare e perceba quanta sabedoria há de ser acumulada até chegar na idade deste, que te fez parar. Quantas histórias, quanta vivência! Tantas que lhe fazem andar lentamente, se apoiando nas paredes. O maior peso que se pode carregar, é o peso da própria vida.

Mora. Moradia.

Poesia: mora(dia) e noite em nossas vidas.

(O4.O4.2O11, 00h16, ideia que vem sendo elaborada desde sexta após andar pelas ruas, até hoje, depois de uma peça de teatro.)

Teu Olhar

O olhar muda. Parece procurar o meu.
Mas o que busca em meus olhos?
Parece que pede desculpas, busca compreensão. Ou será abrigo?
Apoio? Não. Sabe que não encontrará. Não para isso.
Sei que busca e não basta. Recorre ao contato, me enlaça em teu abraço e, então, me calo. Mais um calo, uma marca, fruto de um esforço… em vão.
Corpo ao chão.
Mais uma vez, solidão.
(31.O3.2O11, 18:58, aula de português)